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O cinema já nos presenteou com diversos filmes que chocaram a sociedade, seja por apresentarem temas tabus ou por exporem ao público assuntos que ele não está acostumado a lidar. Entre essas obras impactantes, destaca-se Crash, dirigido por David Cronenberg e lançado em 1996, que trata dos prazeres mais estranhos e excêntricos do ser humano, especialmente no que diz respeito ao sexo.

O filme, baseado no livro homônimo do escritor inglês J.G. Ballard, conta a história de um grupo de pessoas que são obcecadas por acidentes de carro e as colisões se tornam um catalisador para seus desejos sexuais. O enredo inusitado e desconcertante serve como pano de fundo para uma reflexão sobre o amor, o sexo e o desejo em um mundo no qual tudo é permitido.

A obra de Cronenberg, no entanto, não foi bem recebida pela crítica e pelo público quando foi lançada. Muitos a consideravam perturbadora demais e rejeitavam o fato de que o sexo fosse retratado de forma tão explícita. Além disso, o filme desafiava as convenções sociais ao mostrar relacionamentos que envolviam fetiches e perversões, o que tornou a trama ainda mais desconfortável para o espectador.

Não obstante, Crash também teve seus defensores. Para alguns críticos, a obra de Cronenberg era uma obra-prima que abria possibilidades para uma nova forma de se discutir a sexualidade. O diretor canadense, inclusive, defendia que o filme não era uma apologia ao sexo explícito, mas um drama sobre a busca pelo amor e pela conexão emocional. A forma como o sexo era retratado em Crash seria apenas um reflexo dos personagens, que usavam o impacto dos acidentes para se aproximarem e se relacionarem.

De qualquer maneira, Crash deixou uma marca indelével na história do cinema. Mesmo se passando mais de duas décadas desde o lançamento do filme, a trama continua a chocar e provocar reflexões sobre os limites do amor e do sexo. O sucesso de 50 Tons de Cinza (2015), por exemplo, não teria surgido se não fosse por obras pioneiras como a de Cronenberg.

Em última análise, Crash é um filme que nos leva a questionar a forma como a sociedade enxerga o sexo e os fetiches. É uma obra que nos mostra que mesmo os desejos mais excêntricos podem ser compreendidos e, quiçá, aceitos, desde que tenhamos abertura para falar sobre eles. Por isso, vale a pena assistir a esse filme, mesmo que seja para sentir um desconforto saudável e fazer reflexões profundas sobre a vida e o amor.